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RS_Morning call - Macro e Micro Economia

   As decisões que todos os dias todos nós tomamos têm um propósito, que é o de satisfazer necessidades ou contribuir para o bem-estar própr...

sábado, 28 de maio de 2022

RS_Morning call - Macro e Micro Economia

   As decisões que todos os dias todos nós tomamos têm um propósito, que é o de satisfazer necessidades ou contribuir para o bem-estar próprio ou daqueles que nos estão próximos. A tomada de decisão, por seu lado, exige recolher e processar informação, a qual pode ter origem em múltiplas fontes: algumas das nossas escolhas de consumo podem ser condicionadas pelos hábitos evidenciados pelos moradores da mesma zona residencial; as opções de formação ou educação podem ser resultado de influência familiar ou de amigos; as decisões de poupança podem ser determinadas pelo tipo de comunicação que a instituição bancária mantém com os seus clientes. 

     Independentemente do impacto que a interacção com aqueles que nos estão próximos pode exercer sobre as escolhas individuais, é um facto que grande parte destas escolhas é também condicionada ou determinada pelo conhecimento acerca das condições materiais gerais sobre o meio geográfico que nos envolve. Este conhecimento resulta da informação que a contabilização de medidas económicas agregadas permite gerar; a contabilização é, regra geral, efectuada a nível nacional ou supra-nacional pelas autoridades estatísticas competentes para o efeito e disseminada essencialmente através dos meios de comunicação social. 

    A riqueza que a economia produz ao longo de um ano influencia o nível de receitas que o Estado recolhe via impostos e, consequentemente, as suas políticas de provisão de bens públicos e redistribuição de rendimento; a taxa de desemprego fornece indicações importantes sobre a probabilidade de sucesso de encontrar emprego por parte daqueles que agora entram no mercado de trabalho; variações na taxa de juro vão seguramente alterar os planos das empresas no que toca às suas decisões de investimento.

Todos estes exemplos ilustram a importância de conhecer a realidade macroeconómica, ou seja, de conhecer os valores globais ou agregados dos mais relevantes indicadores da actividade económica e também como estes indicadores podem estar ligados entre si ou envolvidos numa qualquer relação causa-efeito. É comum fazer-se a distinção entre microeconomia e macroeconomia. A primeira respeita ao estudo do comportamento dos agentes económicos, como as famílias e as empresas, e às relações de mercado que entre eles se estabelecem. A macroeconomia debruça-se sobre a medição ou contabilização da realidade agregada; esta, na verdade, não é mais do que o resultado da conjugação das decisões individuais que a microeconomia estuda, mas algum cuidado é necessário quando se procura extrapolar as relações microeconómicas para uma escala de maior dimensão. Há fenómenos agregados que só se concretizam precisamente por o serem, isto é, o comportamento colectivo não tem correspondência, tipicamente, com a simples soma ou a simples média dos comportamentos individuais – é esta constatação que serve de ponto de partida para justificar a necessidade de estudar a macroeconomia de modo autónomo, como corpo de conhecimento com especificidades próprias e com ferramentas e técnicas de análise que também lhe são próprias.

Se a nossa intenção é abordar a realidade macro, a primeira simplificação que se torna necessário fazer consiste em arrumar os decisores económicos num pequeno conjunto de grupos. Estes grupos tomam a designação de agentes económicos. Cada agente económico corresponde a uma série de indivíduos, entidades e/ou instituições para os quais é possível reconhecer uma certa homogeneidade de comportamentos.

   O primeiro agente económico a considerar é o agente famílias. As famílias podem ser encaradas como o agente económico mais elementar, no sentido em que será a entidade normalmente de menor dimensão a partilhar um mesmo orçamento; à partida, em qualquer família há um conjunto de receitas e despesas que é gerido em conjunto e cuja gestão tem impacto sobre o bem-estar da família no seu todo.       Às famílias é, normalmente, atribuído um duplo papel no sistema económico: a elas cabe fornecer a força de trabalho que permitirá produzir bens e serviços; além disso, é o agente a quem está associada a noção de consumo. 

    As famílias consomem bens e serviços para satisfazer necessidades. O consumo realizado pelas famílias designa-se consumo final, no sentido em que se opõe ao consumo intermédio; este não tem por fim satisfazer directamente necessidades, consistindo sim na utilização de determinados bens e serviços para produzir bens e serviços adicionais. 

    Do raciocínio atrás exposto fica também claro que bens e serviços são tudo aquilo que contribui para o bem-estar dos indivíduos via consumo (ou seja, é tudo aquilo que uma vez produzido permite satisfazer necessidades). Os serviços podem igualmente ser designados por bens não materiais (de um ponto de vista económico, a distinção entre bens e serviços não é relevante: ambos são produzidos e ambos são alvo de eventual consumo intermédio ou final).

Outro grupo com homogeneidade de comportamentos que podemos identificar na economia é o agente empresas. As empresas são unidades institucionais cuja principal função económica é a produção de bens e serviços comercializáveis, isto é, bens ou serviços que podem ser transaccionados nos mercados.      

   É também considerado agente económico o Estado, que tem por missão a provisão de bens e serviços não comercializáveis, ou seja, bens e serviços que não são passíveis de serem objecto de transacção nos mercados e que, normalmente, satisfazem necessidades colectivas. Cabe também ao Estado contribuir para a justiça social por via de políticas de redistribuição de rendimento. É ainda de salientar a particularidade de grande parte das receitas do Estado serem fruto não da sua actividade produtiva, mas de contribuições obrigatórias por parte de quem gera rendimento, ou seja, de impostos.

    Por fim, pelo papel particular que desempenha no sistema económico, faz sentido considerar como agente económico as instituições financeiras (bancos, seguradoras, outras instituições de crédito). Estas funcionam como intermediários entre quem poupa (as famílias) e quem necessita de recursos financeiros para financiar a actividade produtiva (as empresas). É relevante salientar que em termos de linguagem macroeconómica é clara a separação entre os termos poupança e investimento – a poupança é realizada pelas famílias (corresponde à parcela do seu rendimento disponível que não é dirigida a consumo no momento presente) e o investimento é concretizado pelas empresas (será a aplicação de recursos financeiros que lhes permite aumentar o seu capital, ou seja, os seus meios de produção). Há a possibilidade de se considerar um quinto agente económico, que seria o exterior ou o resto do mundo.         Como normalmente a contabilização da actividade económica se faz para um espaço geográfico restrito (um país), a análise macroeconómica só fica completa quando consideramos também as relações comerciais e financeiras que os agentes económicos de um país estabelecem com os agentes económicos de outros países. Deste modo, o resto do mundo não será bem um agente económico, mas antes uma forma agregada de considerar todos os agentes económicos residentes em todas as localizações com as quais a economia doméstica estabelece relações.

     Os agentes económicos encontram-se em permanente interacção. É a esta interacção que corresponde o funcionamento do sistema económico. Uma forma simplificada de representar as relações entre agentes é aquela que é conseguida através de um pequeno esquema que se designa por circuito económico. Por uma questão de simplificação, considere-se apenas o circuito que se estabelece entre famílias e empresas; De acordo com as funções descritas para cada um dos agentes económicos, seria possível representar cada par de relações através de um circuito económico do mesmo tipo.

    Encontramos dois tipos de linhas. As linhas a cheio representam fluxos reais, ou seja, quantidades concretas de bens e/ou serviços que são fornecidas por um agente económico a outro. No caso em apreço, as famílias fornecem o serviço ‘trabalho’ às empresas, e estas por sua vez facultam às famílias os bens e serviços com que elas satisfazem as suas necessidades. As linhas a tracejado correspondem a fluxos monetários, os quais respeitam às contrapartidas face aos fluxos reais. Todo o bem ou serviço que é facultado por um agente económico a outro requer um pagamento da parte de quem recebe o bem ou serviço a quem o disponibiliza; deste modo, num circuito económico como o representado, a um fluxo real vai sempre corresponder um fluxo monetário de sentido contrário. Na prática, a informação fundamental que o circuito económico transmite é que as relações entre agentes económicos não são, na economia complexa em que hoje vivemos, passíveis de serem executadas por troca directa, de modo que encontramos normalmente nas transacções uma contrapartida financeira. Eliminar os fluxos monetários do circuito económico significaria estabelecer o extremamente forte pressuposto de que seria sempre possível encontrar uma coincidência de vontades: quando um professor de economia quisesse comer um bife teria de encontrar um talhante disposto a receber uma aula de economia.